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Boa leitura!

Memórias de um Rei - Capítulo II - 112 D.C


Capítulo II
112 D.C

O lobo me encarava e eu devolvia o olhar. Era um daqueles momentos em que o tempo parece parar e a vida pende por um fio. Não sentia nada ao meu redor. Não vi o cervo sair correndo e uma lebre entrar em sua toca. Não ouvi o guincho de um porco selvagem nem o farfalhar de folhas quando um pombo levantou vôo. Toda a minha atenção estava voltada para o animal.


Quando me lembro desse dia, penso em como mudei. Se eu encontrasse um lobo hoje, viraria e sairia correndo, o mais rápido que pudesse. Mas na época eu era jovem e imprudente. Jovem demais. Tinha apenas 12 primaveras de vida e os primeiros sinais de barba apenas começavam a surgir em meu rosto. Era magro, alto e loiro. Meus olhos eram azuis e minha pele, queimada pelo sol. Passava meus dias nadando, brincando e ,claro, pensando em garotas.


Mas nesse momento, não pensava na surra que levaria de meu pai quando chegasse em casa sem carne para o jantar, nem na menina que vinha se insinuando para mim há algum tempo. Minha mente estava vazia e talvez seja esse o motivo de você estar hoje lendo minha história.Tudo aconteceu num instante. Rápido como uma flecha, o lobo pulou sobre mim e eu vi um corte aparecer como que por mágica em seu flanco. Minha faca estava na mão, mas eu não lembrava de tê-la sacado. No instante seguinte eu estava no chão, sentindo no rosto o bafo quente do animal enfraquecido. Ele me cortava com suas garras afiadas e eu o chutava e socava, tentando me livrar. Sua boca se aproximava cada vez mais de meu rosto e, naquele momento, eu senti medo. As vezes acho que o medo dá mais força para as pessoas. Não sei. Só sei que com um esforço descomunal, consegui jogá-lo para o lado e, recuperando minha faca, enfiei-a na perna do animal, cortando carne, músculos e nervos. Não foi um golpe bonito, mas foi o suficiente para deixá-lo no chão. Não me orgulho do que ocorreu em seguida, mas eu era jovem, estava cansado e com dor. Deixei a raiva me dominar e, fazendo um trabalho digno de um açougueiro, retalhei o lobo até deixá-lo irreconhecível. Apenas a cabeça ficou intacta, e esta eu cortei e cravei numa estaca de madeira.


Tinha 12 anos e, como todo garoto dessa idade, queria me mostrar. E encontrar um lobo e sobreviver era um grande feito para uma pessoa tão jovem. Os meninos passariam a me seguir e as garotas iriam me olhar de maneira diferente, pelo menos até que o fato fosse esquecido. Só não sabia que, desta vez, a demonstração me custaria caro, mais caro do que eu poderia imaginar.

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