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Boa leitura!

O Herdeiro#12 – Um Novo Governo – 765 d.Q., Zacrest


É claro que as sacerdotisas de Zanir eram completamente contra o governo de Azzwiters, mas não poderiam declarar isso abertamente. A maioria dos drow estava empolgada com essa mudança drástica na política local. Em toda a história dos elfos negros, houve poucos homens envolvidos na política, e mesmo assim, apenas em funções secundárias. Nunca antes uma cidade havia sido comandada por um macho da espécie. O que animava tanto a população da cidade subterrânea era os ideais imperialistas de Azz. A vitória sobre os elfos tinha renovado o espírito patriótico dos drow, e todos sabiam que com o Filho-do-Mal no comando, tal povo alcançaria grande poder.

Não havia nada que as sacerdotisas pudessem fazer a respeito. Qualquer tentativa de devolver o governo às clérigas da Deusa seria provavelmente respondida com a morte, seja causada pela população ou pelo próprio Azz. A única esperança que lhes restava estava na própria Dama Negra. O golpe de Azzwiters não era apenas uma questão política, mas também uma afronta direta à deusa patrona dos drow, uma ameaça direta à sua autoridade. E Ela sabia muito bem disso. Azz precisava ser controlado cuidadosamente ou poderia afetar o poder da Dama como divindade.

Mas ainda era cedo para intervir, Ela acreditava. O governo de Azz poderia até mesmo Lhe ser beneficial. Ele certamente tentaria expandir o reino drow, sempre ambicioso demais, e, mais cedo ou mais tarde, acabaria caindo por causa de tal sede por poder.

Azzwiters, porém, tinha outros planos. A expansão de seu futuro império poderia esperar. Antes era necessário que seu governo estivesse estabilizado e que tivesse apoio de todo o reino. Cada passo seu agora seria vigiado pela Deusa, e o cuidado deveria ser redobrado. A partir daquele dia, Ela seria seu pior inimigo, e, quando menos esperasse, Azz também a derrotaria.

Mas ainda era muito cedo para aquilo. Havia muito caminho a ser cruzado ainda e seu primeiro ato seria declarar guerra à nação élfica. Com isso, Azzwiters mantinha os drow satisfeitos e iniciava sua campanha de dominação.

A invasão já estava sendo preparada. E dessa vez, não seria um simples ataque a uma vila élfica qualquer, eles começariam pela capital.

"O filho perfeito do mal,
Sobre a Terra irá reinar.
E uma escuridão sem igual,
Fará o mundo se curvar.
Novamente as trevas reinarão,
Enquanto durar a noite.
Num reino de Sombra e Solidão,
Onde a vida será um açoite."

Noite Sangrenta #30 – Conversa no Porão – 786 d.Q., Tycon


Podiam-se ouvir passos na rua logo acima, juntamente com o bater das asas demoníacas em algum lugar próximo. O pingar de gotas no chão de madeira apenas deixava a atmosfera mais pesada. Já fazia algumas horas que Lyrot e Nassar estavam escondidos naquele porão escuro, e os demônios lá fora não pareciam estar nem perto de desistir da caça.

Os dois haviam lutado até o amanhecer e o cansaço tomava conta de seus corpos, fazendo-os pesar como rochas. Desde que o primeiro cultista caíra morto na noite passada, os habitantes de Lepport começaram a transformar-se em criaturas demoníacas, dotadas de asas, garras e dentes enormes. Por mais que eles continuassem matando os inimigos, sempre apareciam mais deles e, apesar da enorme habilidade dos dois ex-guardiões, ficava cada vez mais certo que aquela batalha não podia ser vencida.

-O que está acontecendo nessa cidade, Nassar? – Lyrot perguntou arfando de cansaço.

-Eu tentei lhe avisar, mas você não me ouviu. A Nevaeh tomou conta de Lepport há meses, não há o que fazer!

-Navaeh? O que é isso?

-É uma organização de cultistas que deseja, sabe-se lá por que, fazer com que o mundo seja dominado por demônios. Desde que os drows começaram a se aproximar ao Sul eles ficaram mais agitados. Para mim, o Príncipe-Demônio Xt’Sarath deve ter algo a ver com aquele Azzwiters. Eu tentei investigar, mas fui pego e aprisionado. Assim que consegui fugir daqui, você me encontrou na hospedaria.

O arqueiro foi interrompido pelo som de algo se movendo no andar de cima. Parecia algo bastante pesado e lento. Pouco depois, Nassar continua, dessa sussurrando:

-Olha aqui, nós provavelmente não sairemos vivos daqui, e se não fosse por mim, você já estaria entregue aos urubus, então nada disso importa.

Lyrot parou para pensar por um instante. Quando os dois trabalhavam juntos, costumava-se dizer que Nassar nunca errava um tiro, e ele nunca testemunhara alguma ocasião em que tal mito fosse desmascarado. Mas mesmo assim seria impossível destruir todos os demônios, por mais que o arqueiro acertasse todas as flechas, havia mais inimigos do que era possível conter com o arco, até mesmo com o auxilio da licantropia. Além disso, cedo ou tarde a munição acabaria, e, se isso ocorresse, os dois não durariam um minuto.

-Nós temos que ir para a base da Navaeh. Você consegue nos levar lá?

Nassar olhou atônito para o colega. Ele só poderia estar louco, invadir a base dos demônios só poderia resultar em morte certa. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, um som o fez parar.

Alguém estava abrindo a porta do porão.

Noite Sangrenta #29 – Um Tiro Certeiro – 786 d.Q., Tycon




A ruela em que Lyrot se encontrava era escura, ainda mais com o céu noturno encoberto por nuvens. Os varais que cruzavam sobre sua cabeça balançavam com o vento. O guerreiro podia sentir o cheiro de enxofre cada vez maior no ar da cidade. Mas havia também humanos ali perto, seu olfato aguçado não se enganaria tão facilmente.

Agora a tensão aumentava cada vez mais. Ele sabia que não tinha para onde fugir, e ficar parado provavelmente também o levaria à morte, ou a algo pior. Lyrot pegou seu machado e se preparou para o inevitável. Ele estava cercado e não levaria muito tempo para que o combate começasse.

O som de algo se movendo nos telhados fez com que o guerreiro se virasse para cima, bem a tempo de ver três seres encapuzados pularem para a ruela. Cercado pelos inimigos, Lyrot imediatamente colocou-se em posição de combate. Era fácil identificar os homens encapuzados como cultistas, por usarem o mesmo tipo de capuz, cobrindo todo o corpo, que aqueles que encontrara antes. Ele já tinha matado grupos maiores que aquele antes sozinho, mas algo naqueles três o mantinha receoso. Uma aura sombria emanava de cada um deles, fazendo com que Lyrot sentisse a maldade pura que alimentava suas almas.

Algo naqueles cultistas fazia com que o guerreiro ficasse sem ações. Não era medo, mas de alguma forma a simples presença deles pareciam impedir Lyrot de se mover. Sem poder fazer nada, Lyrot observava enquanto um deles retirava uma adaga de dentro do seu manto negro. Os outros dois pareciam estar murmurando algumas palavras, das quais apenas algumas o ex-guardião conseguia entender. Ele podia visualizar vultos se movendo rapidamente dentro das casas ou sobre os telhados. Havia demônios por toda a parte, e eles pareciam agitados.

Lyrot agora percebia o quanto tinha se precipitado em ir para aquela cidade sem nem ao menos saber o que o aguardava. E em poucos instantes tudo estaria acabado. Lyrot, O Solitário, em breve se uniria a tantos outros que foram mortos por aquelas criaturas nefastas. Ele não podia deixar que tudo terminasse assim. Não permitiria que mais pessoas morressem nas garras desses demônios, nem que mais corpos fossem violados em rituais sinistros, e, principalmente, resgataria Kate.  E para isso ele tinha que ficar derrotar Xt’Sarath.

A Fúria agora preenchia o corpo de Lyrot. A transformação parecia inevitável. A raiva que o guerreiro sentia de todos aqueles cultistas tomava controle sobre sua mente rapidamente. De alguma forma, isso lentamente devolvia-lhe os movimentos. E os três encapuzados pareciam perceber isso. Sem perder mais tempo, o cultista que portava a adaga aproximou-se do guerreiro, preparado para cravar-lhe a lâmina.

Foi então que, direta e certeira, uma flecha atingiu a cabeça do cultista com força e precisão, fazendo-o parar imediatamente.

E lá estava ele, com a mesma postura orgulhosa de anos antes, segurado o seu potente arco de carvalho apontado em direção aos cultistas. Nassar “Tiro-Certo” Blomberg tinha retornado.