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Boa leitura!

Memórias de um Rei - Capítulo 4 - 112 D.C

Capítulo IV
112 D.C

- Por aqui, Lobos.

Era outono, e a trilha de terra batida estava coberta pelas folhas que caiam das árvores. Um belo dia se anunciava e os primeiros raios de sol iluminavam o horizonte. O grupo de garotos se deslocava em fila indiana, tentando sem sucesso não fazer barulho. Todos estávamos confiantes. Iríamos conquistar o último forte dos Gunners e, se tudo corresse bem, ao fim do dia eu me sagraria o Rei da Floresta.

- Thor, mas e se eles estiverem esperando por nós? – perguntou um menino que não devia ter mais de 10 anos

- Iremos expulsá-los do mesmo jeito – respondi, com confiança.

Toda a minha estratégia se baseava na surpresa. Com certeza Ralf, o líder dos Gunners, não estaria esperando por nós tão cedo do dia. Eu estava confiante. E tinha motivo para isso. Tudo correra bem desde que me tornara líder. Os fortes inimigos foram sendo rapidamente conquistados, um atrás do outro, até o dia em que sobrara só aquele. Minhas fileiras haviam sido engrossadas por desertores do outro grupo e agora éramos muito superiores numericamente.

Eu já avistava o forte adversário. Ele estava poucos metros a frente, ao fim de uma grande clareira. Tudo estava tranqüilo, e não havia nenhum inimigo a vista. Parecia que aquele seria nosso dia. Avançávamos a passos largos e tudo corria bem. Foi aí que vi algo se refletindo na floresta e o barulho de uma ordem sendo sussurrada por entre as folhas. O inimigo estava ali e havia nos pego de surpresa.

-Lobos, cuidado! É uma emboscada!

O aviso partiu no momento exato. Um instante depois, duas dezenas de pedras saíram voando das árvores ao redor e foram seguidas por um grito de guerra, enquanto o inimigo vinha correndo em nossa direção.A vitória estivera muito próxima e eu me descuidara. Agora estávamos emboscados. Mas não era hora de lamentar.

-Em círculo! Mantenham a posição!

Desajeitadamente, os garotos se mexeram para tentar cumprir minhas ordens. O inimigo estava próximo, e agora não havia mais nada que eu pudesse fazer. Era cada um por si.

Um garoto ruivo foi o primeiro a se aproximar de mim. Quando ele estava a 5 passos de distância, me agachei e, com um movimento horizontal, bati com o pedaço de madeira que segurava contra suas pernas. Um som seco de madeira contra osso se seguiu e o garoto gritou. Quando me dei conta, ele estava aos meus pés. Chutei sua cabeça e olhei para o lado, a tempo de ver uma pedra acertar em cheio meu ombro esquerdo. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas estoquei o agressor, fazendo-o se afastar. Um Lobo o golpeou pelas costas e ele veio em minha direção, sendo recebido com uma paulada no peito. Olhei para os lados. Os Lobos estavam em maior número e o ataque Gunner perdia força, sendo engolido por meus homens.

No meio da confusão, avistei Ralf. Estava possesso, girando uma espada de madeira com fúria. Seus olhos brilhavam e seu rosto estava iluminado. Parecia um louco. Um louco consumido pela batalha.

- Ralf, está tudo acabado! Desista! –gritei

O garoto se virou e seus longos cabelos negros caíram sobre sua face. A incredulidade passou como uma sombra por seu rosto, enquanto ele percebia o que acontecera. Um momento de hesitação se seguiu e então sua espada estava no chão e ele estava correndo para longe.

A vida é cheia de encruzilhadas. Até hoje me surpreendo com o peso que algumas decisões podem ter de mudar completamente nossas vidas. Naquele dia tomei uma delas. Se eu o tivesse deixado fugir, teria seguido pelo caminho da mediocridade e não estaria aqui hoje redigindo minhas memórias. Até porque ninguém iria ler. Seria apenas a história de mais um padeiro, soldado ou comerciante como milhares de outros. Jamais me tornaria o que me tornei.

É claro que naquele dia não podia prever nada disso. Persegui Ralf, mas apenas por pura vaidade e vontade de humilhá-lo. Foi com satisfação que vi o garoto se virar e me encarar após alguns minutos de perseguição. Foi com altivez que o mandei se render. E foi com medo que o vi sacar uma faca que até então estivera escondida em sua calça. Aquilo não era mais uma briga entre garotos. Agora era real.

Talvez seja por isso que não lembro de quase nada do que aconteceu. Me recordo apenas que rolamos pelo chão e que a faca foi parar na minha mão. E que, no calor do momento, não hesitei em cravá-la no peito de Ralf.

Mas o que eu realmente me lembro é do calafrio que percorreu meu corpo quando percebi o que tinha feito. Essa sensação eu jamais poderei esquecer. Porque eu matara uma pessoa pela primeira vez na vida. Porque o farfalhar de folhas e o barulho de passos se afastando me fez perceber que alguém havia visto e seria testemunha do meu crime. E porque agora eu era um assassino e um fora da lei.

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