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Memórias de um Rei - Capítulo III - 112 D.C


Capítulo III
112 D.C

Uma semana se passou e finalmente o grande dia chegou. Minha cabeça estava cheia enquanto caminhava em direção ao quartel general dos Boars. Fellas era quase 2 anos mais velho que eu, e muito mais forte. Seus músculos eram impressionantes e ele se gabava de conseguir levantar um touro se quisesse. Ninguém nunca o viu fazer isso, mas seu melhor amigo, Melp, jurava de pés juntos ter visto o feito. Em uma situação normal, eu nunca o desafiaria. Mas tudo mudou depois que cheguei com a cabeça do lobo.

Era uma brincadeira antiga dos garotos da vila. Formavam-se dois grupos rivais e cada um construía fortes, que mal podiam ser chamados de barracos. O objetivo era conquistar os fortes adversários, usando paus, pedras e as próprias mãos para afugentar quem os estivesse defendendo. Era uma brincadeira violenta e sempre haviam costelas e braços quebrados ao fim do dia. A briga contra os Gunners não ia nada bem. As últimas semanas tinham sido de fracassos totais e 2 fortes tinham sido perdidos. Fellas, líder de nosso grupo, vinha sendo criticado pelas costas, mas nenhum garoto tinha coragem para enfrentá-lo. Até que eu chegara, com o peito estufado e a arrogância idiota típica de minha idade e o desafiara pela liderança do grupo. Seria uma luta sem armas, até que um de nós desistisse ou ficasse inconsciente.

O forte havia sido construído em uma clareira na floresta. Era uma área plana e sem obstáculos, perfeita para uma luta. Uma roda de garotos estava formada no local. Fellas estava no centro, calmamente alongando o pescoço.

-Vamos rápido com isso. Tenho mais o que fazer hoje. Ou será que você já está desistindo?

Sem uma palavra, me aproximei do garoto mais velho. Trocamos um rápido aperto de mão e, mal havia me afastado, um apito soou, indicando o início da luta. Fellas atacou rapidamente, tentando me desequilibrar com uma rasteira. Desviei para o lado e acertei um soco em cheio em seu estômago. Ele pareceu se curvar por um instante, mas rapidamente se recuperou, dando um passo para trás. Um soco veio voando em minha direção, e senti o gosto de sangue em minha boca. Recuei rapidamente, tomando fôlego. Ele era mais forte e eu, mais rápido. Seria uma boa luta.

E, como toda boa luta, durou muito tempo. Ambos éramos teimosos como rocha e nenhum de nós aceitava perder. Adoraria dizer que ganhei com um golpe de mestre ou usando uma estratégia genial. Mas essas são minhas memórias, e devo ser fiel à verdade. Ganhei aquela luta por um único motivo. A sorte estava do meu lado.

Quase meia hora havia se passado e minhas forças já se esgotavam. Meus olhos estavam roxos e todo meu corpo doía. Meu único consolo era que Fellas não estava muito melhor. Sangue escorria da lateral de sua cabeça e seu pé havia inchado assustadoramente. Bufava como um boi e foi assim que ele partiu para cima de mim, tentando uma última investida. Recebi-o com um soco mas o garoto continuou vindo e me derrubou no chão. Rolei para o lado mas não consegui desviar de um chute que acertou minha cabeça em cheio. Minha vista ficou turva e achei que tudo acabaria ali. Já não tinha mais forças para lutar.

Foi então que tudo mudou. De repente, quando já estava em cima de mim, Fellas soltou um urro e caiu de joelhos no chão. Eu não havia encostado no garoto mais velho e, entretanto, ali estava ele, caído junto a meus corpo. Em um instante eu estava de pé, e, para ele, estava tudo acabado. Uma enchurrado de socos e chutes partiu em sua direção e só parei quando um filete de sangue começou a escorrer da orelha do garoto mais velho.

Mal reparei na cobra que se afastava escondida pela grama alta, ou nos dois furos gigantescos no pé do garoto. Somente mais tarde, muito mais tarde, iria questionar o que havia acontecido ali. Porque a estaca com a cabeça do lobo estava fincada na frente do forte, os Boars agora eram os Lobos e eu era o novo líder.

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