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Boa leitura!

Memórias de um Rei - Capítulo 5 - 112 D.C




-Droga!

O cervo olhou para trás e saiu correndo. Eu errara o alvo e o que deveria ser meu jantar agora estava a dezenas de metros de distância. Pelo jeito eu ficaria sem comer mais uma vez. Não sou bom com arcos. Nunca fui. Minha mira é péssima e não conseguiria derrubar um homem a 10 passos de distância nem se minha vida dependesse disso. Não. Meu lugar é na linha de frente, onde o ar cheira a suor e a morte está sempre esperando, um passo à frente.

Mas naquele dia eu não pensava nisso. Até porque a fome não me deixava pensar. Estava a uma semana comendo apenas raízes e frutas e minha barriga roncava. Cabisbaixo, caminhei em direção ao acampamento, pensando na reviravolta que acontecera em minha vida.

Duas semanas atrás, eu tinha casa, amigos e família. Agora, eu era um fugitivo, vivendo ao relento e tendo como única companhia a espada e o arco que eu roubara na cidade. Tudo acontecera muito rápido. Após a morte de Ralf, voltei para a cidade, acreditando que a verdade estava do meu lado e eu agira em legítima defesa. Mas, o que eu vi, escondido atrás de uma árvore, me fez perceber que eu não podia mais continuar ali. Toda a cidade estava na praça, a mesma praça em que eu tanto brincara quando criança. Mas dessa vez, ninguém brincava. A mãe de Ralf chorava, e as lágrimas escorriam por sua pele, formando uma poça no chão. Seu pai urrava e jurava vingança. O xerife gritava ordens, mandando homens a minha procura. Todos estavam contra mim. Apenas minha mãe se mantinha afastada num canto, os olhos inchados. Senti pena dela. Não tive culpa no que aconteceu, mas ela não merecia sofrer por minha causa. Prometi a mim mesmo que um dia voltaria e a levaria comigo.

Mas antes eu precisava fugir. Como todos estavam na floresta atrás de mim, não foi difícil me esgueirar e roubar um pouco de comida e algumas armas. Deixei um bilhete para minha mãe na sacada da janela e tomei rumo oposto a meus perseguidores. Dirigi-me para o norte, rumo às montanhas.

E ali estava eu. A comida roubada não durara mais de uma semana e foi pensando em voltar à cidade e pegar mais que me dirigi à fogueira. Mas de repente, um barulho de cascos e gritos me tirou do devaneio. Porque alguém havia me encontrado, e eu estava em apuros.

Noite Sangrenta #25 – Nassar – 786 d.Q., Tycon



A noite passou rapidamente para Lyrot. Os sons do vento forte não causavam medo no guerreiro e ele pode dormir tranquilamente. O tempo ainda estava chuvoso e uma leve garoa ainda caía das nuvens escuras. Mas não havia mais tempo a ser perdido. Ele deveria encontrar Nassar.

Já arrumado e com os poucos pertences em mãos, Lyrot desceu o pequeno lance de degraus fazendo com que a velha madeira da taverna rangesse a cada passo seu. A falta de luminosidade do dia chuvoso, em conjunto com a má iluminação da hospedaria, contribuía para dar uma aparência tenebrosa ao lugar.

Lyrot se dirigiu ao balcão próximo à entrada da taverna e pediu um pedaço de pão com cerveja. Enquanto esperava pela modesta refeição, o guerreiro começou a observar as poucas pessoas que ali estavam. Uma dupla de anões que nada falava, um grupo de mercadores que sussurravam próximos à lareira, um homem encapuzado sentado no canto...

A surpresa tomou conta do ex-guardião enquanto reconhecia os olhos e cabelos castanhos daquele homem misterioso. O formato do rosto, o mesmo estilo de se vestir de anos antes. A sorte parecia estar do lado de Lyrot.

-Nassar! – Exclamou o guerreiro aproximando-se da mesa do velho companheiro – Estava justamente te procurando.

O homem encapuzado olhou por um instante para aquele que se aproximava tão saudosamente e, após pouco tempo, pareceu reconhecer o guerreiro.

-Lyrot! – Respondeu descobrindo o rosto e levantando-se da cadeira. – O que o traz aqui? Não tem suas obrigações a cumprir com o Mestre? – O tom de sarcasmo era evidente na voz do arqueiro.

-Digamos que segui um caminho semelhante ao seu... Mas isso não importa, quero que me ajude com uma coisa. Algo que você conhece muito bem.

O rosto de Nassar Blomberg empalideceu em um segundo. Olhando em volta, ele cobriu novamente o rosto com o capuz escuro e voltou a sentar-se.

-Talvez não seja bom falarmos sobre isso aqui. Pode-se dizer que estou bastante encrencado com eles.

Deixando um punhado de moedas sobre a mesa e fazendo um sinal para o taberneiro, Nassar se levanta mais uma vez e sem olhar para Lyrot caminha para fora da taverna.

-Siga-me – Foi tudo o que disse antes de sair.

Noite Sangrenta #24 – Viajando – 786 d.Q., Tycon


O dia se arrastava longamente para Lyrot. As nuvens escuras e pesadas pairavam baixas no céu. O sol que já pouco iluminava, agora ia baixando no horizonte coberto de cinza. As sombras da noite aos poucos começavam a cobrir a terra de forma assustadora. Não havia sequer um sinal de que estivesse se aproximando de alguma cidade e, como estava a pé, a viagem seria penosa.

Após ter lido algumas partes do livro que encontrara no Mausoléu, as suspeitas de Lyrot se confirmaram. Grande parte do tomo continha uma série de rituais de invocações de demônios e outros seres das trevas. E dentre eles havia um que permitia abrir um portal para a passagem de Xt’Sarath. Se algo do tipo acontecesse, este mundo estaria fadado a um governo de morte e destruição sem precedentes.

E era por isso que Lyrot continuaria seu caminho, chovesse ou não. Ele deveria descobrir uma forma de eliminar a organização dos cultistas. E, se tudo corresse conforme o esperado, ele conseguiria encontrar sua irmã.

E uma coisa estava diferente para Lyrot agora. Parte dele aceitava o Lobo que existia dentro dele e, se fosse necessário, não hesitaria em usá-lo. A fada o havia convencido de que poderia controlar a Fera se treinasse bastante. E inimigos não faltariam para esse propósito.

As primeiras gotas de chuva começavam a cair na estrada de terra quando Lyrot finalmente avistou alguns pontos de luz ao longe. Provavelmente tratava-se de uma taverna de beira de estrada, o que caía muito bem para o guerreiro. Talvez fosse hora de parar para um descanso, ao menos até que a chuva passasse.

Enquanto corria, Lyrot fazia uma breve revisão de sua longa conversa com a ninfa na casa-na-árvore. Ela parecia realmente interessada em fazê-lo usar sua licantropia cada vez mais, e isso era muito estranho. Mas algo no jeito da criatura o fazia acreditar nela. E caso estivesse errado, provavelmente se arrependeria amargamente disso.

Após uma corrida exaustiva em meio à chuva, Lyrot conseguiu chegar à porta da hospedaria. O lugar parecia aconchegante, exceto pelas sombras das árvores que se agitavam por causa do vento, causando um efeito assustador.

O guerreiro passaria a noite ali. Só depois, ele poderia sair em busca daquele que o ajudaria a encontrar os cultistas. A única pessoa que Lyrot sabia que tinha conhecimento suficiente sobre demônios para dizer como impedir a vinda do Príncipe-Demônio ao mundo humano.

E o nome dessa pessoa era Nassar “Tiro-Certo” Blomberg.